Sua história

Escrito por sua filha Abadia.  



Indo à Minas Gerais, bem nas proximidades do Triângulo Mineiro,  se encontra a nascente do Rio Paranaíba, lá, bem perto está a Fazenda Olhos D'água e é onde nasceu uma menina chamada Veridiana.
   Ela nasceu no dia 26 de agosto de 1902. Deram-lhe o nome de Veridiana Mendes da Silva, em homenagem a sua bisavó.
   Descendentes de portugueses, ela era uma menina saudável, morena e forte. Foi criada com todo carinho por seus pais, Manoel Joaquim da Silva (Tio Neca) e Higina Mendes da Silva.
  Eram sete irmãos:

               . Maria Mendes da Silva (Cota)
               .  José Manoel da Silva (Nego Neca)
               . Jorcelina Mendes da Silva
               . Miquelina Mendes da Silva
               . Antônio Mendes da Silva (Antonio Neca)
               . Veridiana Mendes da Silva
               . Angelica Mendes da Silva

          Família muito trabalhadora. Bem cedo, todos tiveram as suas ocupações na própria fazenda, dedicando-se a agricultura e a pecuária, das quais faziam suas subsistências.
  Por ser uma família de grande religiosidade,  não perdiam as festas da igreja na cidade do Rio Paranaíba, que ficava bem próxima à fazenda, e para lá onde se dirigiam a pé ou a cavalo.
  Outras vezes, era o Padre da cidade que ia até a fazenda Olhos D'agua. Ai a alegria era geral. Reuniam-se os vizinhos quando eram realizados, batizados, casamentos e missas.


      Seu primeiro afilhado 

   Veridiana já estava mocinha, quando certa manhã, bem cedinho, chegou a fazenda Tio Firmino Manoel. Era ele um tio querido e muito bem vindo. Depois de conversar longo tempo com os adultos serviram o almoço. Nessa hora dirigiu-se a ela e disse:
- Veridiana, você sabia que nasceu mais um rapazinho lá em casa?
-  Sei tio. Ficamos sabendo.
- Vai se chamar João Firmino, e eu vim aqui fazer meu convite a você.
Ela conta que ficou assustada. Por que um convite só para ela?
- Vim chamar você para ser madrinha do meu João.
Ela dizia que não cabia de tanta felicidade. Era seu primeiro afilhado. Ser madrinha de uma criança, naquela época, era muita honra.
- Sim tio! Eu quero muito e fico agradecida ao senhor.


João Firmino e a Verediana em sua casa em Anápolis.

Saiu correndo para dar a noticia a mãe e aos irmãos.
Depois que o tio Firmino foi embora veio a preocupação...
- Pai, como serei madrinha, se não tenho presente para dar ao meu afilhado?
- Fique tranquila Veridiana. Você vai dar uma bezerra para o menino João.
E dai nasceu uma grande amizade entre madrinha e afilhado, que durou para sempre.


    1° casamento, nascimento do filho e perca do marido


  Com 18 anos Veridiana casou-se com seu primo Adolfo Miguel. Adolfo é filho de Miguel José da Silva e Maria Cândida de Mendonça (Lulu).
 
   Após um ano de casamento, Aldolfo veio a falecer, deixando Veridiana viúva e com um filho, o Geraldo Mendes da Silva (Peu).

   Viúva muito nova, voltou para a casa dos seus pais com a criança.

    Anos depois, casou-se novamente com o João Evangelista dos Reis (João Nita), que era fazendeiro na fazenda Fradique. Ele também era viúvo e estava casando também pela segunda vez.
Desse casamento tiveram três filhos: Angélica, Clodoveu (Veu) e Abadia Augusta dos Reis.


Angélica, Geraldo, Veridiana, Abadia e Clodoveu



Por motivo escolar João Nita e Veridiana mudaram da Fazenda Fradique para a cidade de Arapuá em 1944.

De Arapuá, em 1956 mudou-se para Carmo do Paranaíba.

Em Carmo do Paranaíba, Veridiana ficou viúva pela segunda vez. Ficando com quatro filhos. Um do primeiro casamento e três do seu segundo.

Ela era de uma família muito religiosa. Este costume perdurou por toda sua vida.

Em Carmo do Paranaíba ela morava perto da igreja São Francisco. Era seu costume levantar bem cedo para assistir a primeira missa.
Contam que muitas vezes, ela e o tio Firmino chegavam à igreja de São Francisco, antes até dela ser aberta e ajudavam na abertura da mesma, e na preparação da primeira santa missa do dia.

Contavam que Veridiana era muito festeira, participando de festas religiosas e outras.

Naquele tempo, não havia automóveis naquela região de Olhos D'água e Fradique
Para ela ir as festas, quando era mais longe de sua fazenda, teria que ser sempre a cavalo. Cada um queria enfeitar mais a sua montaria, que era sempre um animal de belo porte e rápido.  O arreio que era usado pelas mulheres, tinha o nome de sião. Elas sentavam de lado.


Verediana em sua casa em Anápolis.

Contavam que minha mãe era uma excelente cavaleira. Moça morena, cabelos longos e pretos.  Essa vasta cabeleira nunca foi cortada, porque meu avô, Tio Neca, gostava. Sempre com um filho na garupa do cavalo e outro no colo. E era a primeira que chegava ao local da festa. Ajudava na preparação de tudo que precisasse para a realização do evento a ser realizado.

Quando menina, Abadia ia  com a mãe a Fazenda Olhos D'água. Ainda na chegada, tinha três currais, cercadas por pedras empilhadas. Construções feitas pelos escravos. No último curral,  Higina, a mãe de Veridiana, plantou um belo jardim, pois era apaixonada pelas flores.

A casa muito grande, muitos quartos, salões enormes, bica d'água e engenho.

No final dos anos 50 do século XX. O Clodoveu iniciou uma empresa de ônibus, fazendo a linha Carmo do Paranaíba, passando por Arapuá, a cidade do Rio Paranaíba, São Gotardo, chegando até a cidade de Tiros. E também fazendo especiais em outros locais.

No inicio dos anos 60 do mesmo século, Clodoveu transferiu sua empresa para Goiás, em Anápolis. Ele transferindo para Anápolis, podendo assim aumentar a frota de ônibus e expandindo suas linhas chegando a ter ônibus para quase todo estado de Goiás.

Em 1967 no Carmo do Paranaíba, só estava morando a Veridiana e sua filha caçula Abadia.

Em 1967 Veridiana mudou para Anápolis, onde encontrou seus quatro filhos A alegria de estar com os filhos foi muito grande. Estava também proxima de todos seus sobrinhos e irmãos, que tinham transferido suas moradias para Goiás em 1933.

Os primeiros a mudarem foram sua irmã, a Jorcelina e seu esposo Leandrinho, juntamente com o Antônio Mendes da Silva (Antônio Neca).

Porém veio, para Veridiana o sofrimento de deixar seus parentes, amigos e sua querida Minas Gerais. Mas nunca esqueceu seu povo, suas origens, suas raízes.

Chegando à Goiás reencontrou novamente com seu querido afilhado João Firmino, que já morava neste estado desde 1940.

Ele tinha casado em 20 de janeiro de 1940 com sua prima, a Sebastiana, que também era prima da Veridiana e mudou em setembro do mesmo ano. A Sebastiana era filha do tio Augusto Tombado, o oitavo filho de José Manoel da Silva.

João Firmino morava na cidade de Iporá, distante de Anápolis aproximadamente 300 quilômetros. Sempre que tinha oportunidade, estava visitando sua madrinha. Sempre acompanhado pela Sebastiana, também por um de seus filhos, o que tivesse disponível naquele dia para acompanha-los.

Nessas visitas, ele levava presentes para ela, que retribuía a ele, sua esposa Sebastiana, e os acompanhantes, com seus artesanatos, colchas de retalhos, crochês diversos e bordados.

Nas bodas de Ouro de João e Sebastiana, a missa foi celebrada na capela do Colégio Santa Clara, em campinas. Depois da missa teve a festa.

Os convidados da festa preocuparam, pois o casal já estava de idade e João Firmino ainda tinha madrinha.

Minha mãe sempre usou cabelos trançados e fazia um coque. Nesse dia ela foi tão fotografada e abraçada que suas filhas Angelica e Abadia, tiveram que arrumar o cabelo dela por várias vezes.

Veridiana foi uma mulher humilde e muito querida por todos. Nunca teve um inimigo, e a sua maior qualidade era a caridade.

Tinha muita fé, viveu somente para Deus, sua família e seus amigos.

Clodoveu, fazia todo ano a festa no aniversário dela. Na "Estância Dona Veridiana" próximo a Nerópolis. Festa bem a moda mineira, como ela gostava. Muita comida, foguetes, missa, sanfona, folia de Reis, baile e toda família reunida.
Veridiana  foi uma pessoa alegre e feliz!

Sebastiana, João Firmino e a Veridiana em sua casa na cidade de Anápolis.

Quem hoje ainda passa por essas terras mineiras, verá um velho coqueiro de babaçu com suas largas folhas balançando ao vento. É a única lembrança que ficou da fazenda Olhos D'água.
E de nossa querida dona Veridiana uma saudade enorme.
Nossos agradecimentos a Deus por deixa-la conosco por 97 anos.


Veridiana e João Firmino em 1997.